Muito se falou da vinda do artista chinês Ai WeiWei ao Brasil. A imprensa esperou ansiosa sua chegada e noticiou a sua grande importância dentro do contexto político através de críticas ao regime governamental chinês e suas percepções pessoais sobre temas tão relevantes como a imigração.
Curioso, estive no último final de semana da exposição Raiz no Parque Ibirapuera e fiquei muito bem impressionado em vários aspectos. Logo na entrada, a organização do evento me chamou muito a atenção. Exposição bem montada, bem contada, didática e organizada. Fiquei com ótima percepção de que os organizadores foram competentes e, sobretudo, corajosos em realizar a maior exposição do artista na América Latina. Como exemplo, na instalação “straight” ou traduzida como “reto”, são 164 toneladas de ferros retorcidos que foram transportados e trabalhados manualmente. Consegue imaginar o trabalho de importar esse material, desembaraçar no porto e montar tudo na OCA?
Outro ponto que me chamou a atenção é a pluralidade de visões artísticas que Ai WeiWei possui. Além de muito produtivo pela quantidade de obras produzidas, suas percepções são amplas e distintas entre si e apontam para vários assuntos. Imigração, diferença entre os hábitos do oriente e ocidente, críticas políticas a China, referências a cultura brasileiras, sexualidade, enfim, o repertório é vasto.
Apesar do acervo de obras expostas ser grande, algumas em especial chamaram mais a minha atenção. Como dito acima, a obra “straight” é composta por milhares de vergalhões de aço recuperados e denuncia o descaso do governo chinês com relação à edificação das escolas na cidade de Sichuan – foram construídas fora do padrão exigido, com baixa qualidade. Resultado: em 2008, mais de 5 mil crianças morreram em decorrência de um terremoto na cidade. Na ocasião, o artista conseguiu quantificar o número de crianças atingidas, apesar de o governo chinês tentar abafar e omitir o caso.
WeiWei também criou uma enorme obra representando um barco inflável com 50 refugiados escancarando o sofrimento daqueles que buscam asilo. O artista lançou um documentário em que acompanhou a entrada de imigrantes ilegais pela ilha grega Lesbos à Europa. Weiwei tem se engajado fortemente para discutir a crise dos refugiados. Além da instalação do barco, a exposição disponibilizou o documentário em vídeo para o público assistir no local.
A instalação sementes de girassol também é muito interessante e valeu um olhar mais reflexivo. O trabalho ocupou uma área de quase 400 m² na Oca e é composto por milhões de sementes de girassol de porcelana pintadas a mão por artesãos chineses, levantando a questão da produção de massa e perda da individualidade. Na china a semente de girassol é uma comida muito popular. Para criar essa obra impressionante, ele convidou 1.100 mulheres para pintarem individualmente uma a uma semente.
A obra Dropping a Han Dynasty Urn (Deixando cair uma urna da dinastia Han), mostra o jovem artista chinês derrubando intencionalmente uma urna cerimonial de cerca de 2.000 anos, da Dinastia Han, período da história da civilização chinesa. A ação subversiva e transformadora foi captada e transformada em três imagens que vêm sendo expostas em mostras por todo o mundo. No Brasil, foi exposta a versão dela em peças de Lego que a deixou ainda mais interessante.
Apesar da exposição em São Paulo ter se encerrado no dia 20 de janeiro, há vários livros do artista à venda para maiores interessados e certamente sua criação e produção artística ainda tem muito o que render. Os fãs de arte contemporânea agradecem!