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Reluzentes Castelos e Deliciosos Vinhos

O Vale do Loire oferece enorme diversidade de uvas e terroirs cercadas pelos mais lindos e famosos castelos do mundo

Vista Aérea do Chateau de Cheverny.

Exuberantes castelos, vilarejos pitorescos e encantadoras colinas às margens do maior e mais famoso rio da França sempre foram os cartões postais do Vale do Loire. O que muitos não sabem é que trata-se de uma das regiões vinícolas com mais diversidade de estilos e características da França. De tintos a brancos passando pelos rosés e espumantes, leves ou potentes, secos ou doces, o Vale do Loire presenteia o mundo com vinhos construídos com mais de 2000 anos de história. O Vale do Loire é banhado pelo rio Loire, considerado patrimônio mundial pela Unesco desde novembro de 2000 sob a denominação de “paisagem cultural”. É o rio mais importante e cultuado pelos franceses. Em suas margens estão mais de 1.000 quilômetros de adegas nas colinas, vilas e chateaux que vão desde a cidade de St Nazaire no Atlântico até as cercanias de Nevers já na Borgonha.

Chateau de Chenonceau sobre o Rio Cher.

Por sua atmosfera mágica e bela o Vale do Loire, conhecido como o Jardim da França, viu crescer durante centenas de anos vultosos castelos às margens do rio Loire. Era a região escolhida por reis, rainhas e nobres. Talvez por isso pareça até hoje ter saído de um conto de fadas. São mais de 110 chateaux de reputação mundial que começaram a ser construídos desde a época da renascença. Entre os mais famosos estão os castelos de Chinon (idade média), de Amboise (séc.XV), de Chambord e o de Chenonceau (séc. XVI) e o de Cheverny (sécs. XVII e XVIII). Até o século XIX muitos castelos ainda foram erguidos na região. Atualmente vários estão abertos para visitação pública e guardam tesouros que vão além das obras de arte, dos ricos móveis, tapeçarias e construções magníficas. Visitar os Chateaux é viver os bastidores da história e voltar no tempo da forma mais gostosa possível.

A região é ainda um grande berço da enogastronomia do mundo e uma de suas marcas inconfundíveis são os queijos, principalmente os insuperáveis Chèvre, elaborados a partir de leite de cabra. São uma religião e uma unanimidade em toda a França. Nas cercanias de Nantes temos o famoso Crémet, em Chinon o espetacular Ste-Maure e entre Tours e Sancerre temos dois muito especiais, o Selles sur Cher (Cher é um dos importantes afluentes do Loire) e o Crottin de Chavignol.

Vinha de Chenin Blanc de Nicolas Joly com o Loire ao fundo.

Falando de vinhos trata-se de uma região com grande e diversa seleção de uvas em várias apelações de origem controlada (AOC – Appelation d’Origine Controlé). A parte leste da região sempre foi mais conhecida pelas uvas Sauvignon Blanc para os vinhos brancos e Pinot Noir para os tintos e rosés.

Trio de preciosidades de Nicolas Joly.

O meio do Loire tem como uvas principais a Cabernet Franc e a Chenin Blanc, respectivamente para tintos e brancos. Mas existem ainda centenas de hectares plantados ao redor com Cabernet Sauvignon, Malbec, Gamay, Pinot Meunier, Pinot Gris e Chardonnay. O Vale do Loire apresenta sua identidade vinícola própria com vinhos charmosos e frescos feitos essencialmente por famílias produtoras.

O início da nossa linda viagem começa na AOC Muscadet nos arredores de Nantes, passa pelas grandes regiões de Anjou e Touraine e finaliza nas magníficas AOCs de Sancerre e Poully-Fumé.

Muscadet

A região que tem como principal centro a cidade de Nantes é famosa por seus frutos do mar, pelo queijo Cremet e os pungentes e secos vinhos Muscadet. Os brancos produzidos a partir da uva Melon de Bourgogne são quase sempre secos e com boa acidez além de cremosos, frescos e elegantes. Noventa por cento das uvas plantadas dessa região são plantadas em baixas e arenosas colinas à beira do Loire e seus afluentes Sèvre e Maine.

No Brasil temos poucos vinhos à base dessa uva disponíveis no mercado.

Rótulo do espetacular Domaine Huet Clos du Bourg 1er Trie.

Anjou, Savennieres e Quarts de Chaume

Seguindo de Nantes para o leste abordamos a segunda importante cidade da região, a imponente Angers. Ao sul dessa cidade além do lindo Castelo de Brissac (famoso no Brasil por ser o ‘Castelo de Caras’) com suas torres que estão entre as mais altas de todos os castelos da região, temos 3 das mais especiais regiões de vinhos do Vale do Loire.

Aqui reina a uva “branca” Chenin Blanc que produz tanto excepcionais vinhos secos até alguns dos doces mais especiais, que podem competir de frente com renomados Sauternes da grande região de Bordeaux. Os doces elaborados a partir da Chenin Blanc são os prestigiados Quarts de Chaume, os imponentes e mais raros Bonnezaux e os impressionantemente Coteaux du Layon. São produzidos com uvas atacadas pelo fungo botrytis cinérea (podridão nobre) que tem influência direta da umidade vinda do Loire. O fungo em questão ataca a casca das uvas provocando pequenos furos que fazem com que o líquido interno escoe e com isso aumente a concentração de açúcar nas uvas, ainda nas vinhas antes da colheita. Os Savennieres (100% Chenin Blanc) estão entre os brancos secos mais especiais da França e muitas vezes rivalizam com os brancos da Alsácia e do leste do Loire (Sancerre e Pouilly Fumé) como os vinhos imediatamente sucessores dos unânimes brancos da Borgonha.

Ainda nessa região temos famosos rosés como o Rosé D’Anjou e o Cabernet D’Anjou. Na maioria das vezes são vinhos simples e que servem mais para refrescar. Além das próprias uvas Cabernet Franc e Sauvignon esses rosés têm muitas vezes em seu blend a uva local Groslot.

Para nossa felicidade, temos no Brasil disponíveis hoje os melhores produtores da região.

Apesar de encontrarmos bons tintos nessa região são mesmo os brancos que brilham, tanto secos como doces. Os mais espetaculares produtores são o genial Nicolas Joly, um habitue de nosso país, e a Domaine de Baumard, comandada por Florent Baumard, que também é freqüentador de nosso país, tendo nos visitado ano passado para participar de uma feira de vinhos.

O vinho mais célebre de Joly é o Savennieres – Coulée de Serrant Clos de la Coulée de Serrant. Um vinho fabuloso em todas as safras degustadas. Um branco com alma de tinto, de tão profundo e rico. Dos disponíveis no Brasil os destaques são os espetaculares 2004 e 2005. Ainda de Joly provamos o também espetacular Savennieres – Roché aux Moines Clos de la Bergerie 2005 e o Savennieres Les Vieux Clos 2006. O 1º é um mini Coulée de Serrant que está mais pronto, gentil e com mais carga de frutas no nariz e mesmo assim com a marca mineral presente. O 2º é um ano mais jovem, mas sem dúvida um vinho de menor complexidade. É também maravilhoso e mostra todo o potencial da injustiçada Chenin Blanc.

Parte Alta do Vilarejo de Sancerre.

A Domaine des Baumards que também produz excepcionais brancos secos, chega ao limite da perfeição com seu branco doce, o Quarts de Chaume. O 2006 apresenta  deliciosas nuances de mel e flores. Na boca sua acidez é marcante. Gera uma sensação de doçura, mas com muito frescor. A preço bem mais acessível a casa produz o Coteaux de Layon. Esse vinho da safra 2007 tem uma doçura menos pronunciada que o irmão  mais famoso, mas é delicioso apresentando uma elegância impressionante. É sensacional poder concluir que a Chenin Blanc é uma uva muito especial.

Touraine, Saumur, Chinon, Bourgueil, Vouvray e Sologne

A cidade de Tours às margens do rio Loire e à beira de uma das mais importantes rodovias da França, a autoroute A10, que vai de Paris a Bordeaux, é o grande centro da região que aglomera 4 grandes e especiais vinhos, os tintos Chinon e St. Nicolas de Bourgueil e os brancos, tintos, doces e espumantes de Saumur e Vouvray. Nos vinhos AOC de Saumur, Chinon e St. Nicolas de Bourgueil a Cabernet Franc reina quase que absoluta, só não reina totalmente porque alguns produtores a misturam com a Cabernet Sauvignon. A modernidade dos Saumur Champigny e dos Chinon estão em vários vinhos especiais. São presentes, com charme e toques florais. Podemos encontrar ainda groselha, morangos, especiarias e toques de chocolate. Os St. Nicolas são comumente mais rústicos e duros, mas de tremenda personalidade.

Os Vouvray, dentre os mais místicos e tradicionais vinhos do Vale do Loire, primam pela versatilidade. Os espumantes Vouvray tanto secos como doces são sensacionais: cheios, persistentes, com boa profundidade. Com mais idade atingem muita complexidade. A Chenin Blanc é a uva de todos os Vouvray Brancos.

Os Vouvray Secos são de médio corpo com alta acidez quando jovens e muito interessantes. Já os doces são delicados e muito balanceados.

No Brasil temos poucos vinhos de St Nicolas, Chinon e Saumur. Mas de Vouvray temos o melhor produtor de todos, a Domaine de Huet. O diretor de exportação da Domaine Huet nos visitou em fevereiro ultimo para apresentar seus vinhos. Rodrigo Assunção Fonseca proprietário da importadora Premium, que representa com exclusividade os vinhos dessa Domaine aqui no Brasil, comandou uma especial degustação com uma serie quase completa da casa. Tivemos a oportunidade de degustar um espumante, 3 brancos secos, 1 branco meio seco e 6 brancos doces. Todos os vinhos estavam de tirar o fôlego. Os destaques foram o seco Le Clos de Bourg 2007 e os doces Le Clos Du Bourg 1ère Trie 2008 e Le Haut-Lieu 1ère Trie 2003, ambos Moelleux (maduro em francês).

No extremo dessas regiões do vitivinicolas temos um pouco a leste de Cheverny uma cidade muito simpática chamada Romorantin-Lanthenay, no centro dela temos um relais chateaux denominado Grand Hôtel du Lion D’Or, que além de imponentes acomodações tem um restaurante sensacional, talvez o melhor de toda a região. Para quem aprecia a enogastronomia na acepção da palavra, esse restaurante é um must, imperdível.

Sancerre e Poully Fumé

Placa indicando a chegada a Pouilly Fumé.

Seguindo de Romarantin para o leste, abordamos as duas mais espetaculares regiões de brancos produzidos a partir da ultra reconhecida Sauvignon Blanc, Sancerre e Poully Fumé, ambas às margens do grande Loire. Em Sancerre, que fica já a poucos quilômetros da Borgonha, existe, além dos magníficos brancos, imponentes e deliciosos tintos à base da Pinot Noir que reina absoluta na região vizinha.

Quando pensamos em grandes vinhos brancos da França não temos como esquecer dessas 2 regiões. Seus vinhos têm características de impressionantes notas minerais, frutas tropicais e boa carga de especiarias. São ricos, elegantes, cheios e com muito sabor. Os Sancerre e os Pouilly Fumé estão ao lado dos Savenneries como os mais espetaculares vinhos brancos secos do Vale do Loire.

Os tintos são muito interessantes, apesar de não terem a finesse do Pinot Noir da Borgonha, são gostosos, agradáveis e diferentes.

A propósito, quem for a Sancerre pode ainda ter uma bela experiência enogastronômica à moda do Loire no melhor restaurante da cidade. O Restaurante La Tour de propriedade da família Fournier tem uma culinária espetacular. Um  restaurante impecável e com um custo-beneficio extraordinário. Imperdível.

Centro da linda comuna de Sancerre.

Dos vinhos dessas 2 AOCs presentes no Brasil os destaques vão para os vinhos dos produtores Pascal Jolivet, Ladoucette e Fournier Pere et Fils, ambos com vinhos de Sancerre e Pouilly-Fumé, Didier Daguenau de Pouilly-Fumé e Chateau de Sancerre de Sancerre. É difícil escolher quais são os vinhos mais especiais, se de Sancerre ou de Pouilly Fumé, mas nessa região temos 3 vinhos brancos que estão entre os mais espetaculares da França. O Poully Fumé Pur Sang de Didier Dagueneau, o Poully Fumé Baron de L da Maison Ladoucette e o Sancerre Grand Cuvée Vieilles Vignes de Fournier Pere et Fils. O Baron de L 2005 (safra excepcional no Leste do Loire), recentemente degustado, apresenta muito frescor e complexidade. Deliciosos toques cítricos, tons florais, pêssegos, seguidos de tons herbáceos. Palato muito firme, com intrigante acidez e final estonteante. Uma obra de arte com expressão máxima da deliciosa Sauvignon Blanc. Ainda jovem, mas muito prazeroso. Pode ser degustado hoje, mas estará melhorando nos próximos 10 anos.

Vinhedo de Sauvignon Blanc.

Os vinhos de Nicolas Joly são importados para o Brasil pela Casa do Porto

Os vinhos da Domaine de Baumard e de Pascal Jolivet são importados para o Brasil pela Mistral

Os vinhos da Domaine Huet e de Fournier Père et Fils são importados para o Brasil pela Premium

Os vinhos da Maison Ladoucette e do Chateau de Sancerre são importados para o Brasil pela Vinci Vinhos

Os vinhos de Didier Dagueneu são importados para o Brasil pela Grand Cru

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