Conhecido mundialmente, o Circuito W em Torres Del Paine é um paraíso para os amantes de trekking.
Eu achei que havia um certo exagero quando ouvia sobre os ventos patagônicos. Até chegar lá… Rajadas pra mais de 60 nós podem causar uma grande confusão mesmo nas águas azul turqueza outrora tranquilas do lago Pehoé.
A travessia de catamarã rumo ao refúgio Paine Grande para começar a trilhar o circuito W foi uma recepção de boas vindas!
Quando não está trilhando com o visual deslumbrante do maciço do Paine, deve estar dentro de algum vale, ao lado de um lago ou enchendo os olhos com qualquer outra vista. Optamos por largar pela perna leste do W (W inverso), onde a estrela é o glaciar Grey. Espetáculo! Parte dos glaciares da Patagonia, o Grey é uma massa de gelo que cobre uma área de 270 km2.
Para além do refúgio que leva seu nome, vale a caminhada até a segunda ponte, tremendo visual do glaciar.
Uma das coisas mais interessantes sobre caminhar por alguns dias em um lugar como Torres del Paine é encontrar gente de muitos tipos e de muitos lugares. Nas salas de estar dos refúgios troca-se experiências e dicas, faz-se amizades ainda que de um dia, diverte-se. Pode reencontrar amigos de Hong Kong em um dia e no outro jantar com um casal de indianos e jogar xadrez com uns americanos bem engraçados.
Viagens outdoor, entretanto, tem um probleminha; nem sempre o céu é o azul esperado. Tiramos partido positivo dos ventos insanos que nos acompanharam nos 2 primeiros dias e tivemos bons momentos com eles, mas no terceiro dia Torres del Paine decidiu nos mostrar que o clima pode as vezes não ser dos mais amistosos.
Muita chuva, águas subindo, riachos transformando-se em rios quase no limite de ser possível atravessá-los. Ainda assim as várias horas trilhando e a subida ao Vale do Francês foram memoráveis.
Nesse dia agradeci não estar com a turma do camping, nosso destino foi uma cabana no Refúgio Los Cuernos com o luxo de um ofurô externa com um sistema rudimentar de aquecimento e uma vista impressionante.
Agora, no quarto dia perdeu a graça! A chuva atravessou a noite e de manhã fomos obrigados a entender que o ataque à base das torres estava cancelado. As poucas horas de caminhada diretamente ao refúgio Torre Central seriam moleza não fossem os incontáveis momentos com os pés enfiados na água gelada.
Foi uma situação anormal tamanha precipitação, os guardas-parque demoraram um pouco para reagir, mas nesse dia fecharam diversos caminhos e muita gente precisou mudar os planos de rota. Acho até que não foram poucas as pessoas que ficaram “ilhadas” em algum dos acampamentos. Bom, felizmente encontramos um refúgio quentinho e aconchegante para passar o resto da tarde relaxando e curtindo a chuva, do lado de dentro!
Teríamos saído de lá com a ligeira sensação de que faltou algo, porém, por sorte nosso destino seguinte era o espetacular Tierra Patagonia. A cerca de 30 minutos de uma das entradas do parque, o hotel debruçado sobre o lago Sarmiento e com a vista magnífica de todo o maciço do Paine, nos possibilitaria uma segunda chance. Em nosso último dia de Patagonia voltamos ao parque com uma equipe do Tierra para fazer uma subida de gala a base das Torres. Absolutamente único, um lago verde a 880 metros de altitude, rodeado por imensas montanhas de granito e elas, Las Torres! Não, não estava faltando algo, estava faltando chegar a um dos lugares mais lindos do Chile!
Sobre a melhor forma de se fazer o W, isso é um pouco relativo, depende de quantos dias se tem disponível, quanto se quer gastar ou mesmo como está a previsão do tempo. Acampar te dá mais opções logísticas pois é possível fazê-lo em mais lugares, porém, o perrengue pode ser razoável se a coisa apertar. Dormir nos refúgios com “cama armada” e pensão completa é bem confortável e te possibilita trilhar com mochilas menores e muito mais leve, entretanto mais caro e com algum prejuízo ao espírito aventureiro. Considerando as condições que encontramos, refúgio, refúgio, refúgio. A estrutura do parque é boa e as trilhas bem sinalizadas. Vá com equipamentos adequados e não carregue peso extra, planeje-se e seja racional.
Serviços:
Onde Ficar (on site Review)
No circuito W:
Administrados pela Vértice Patagônia
Refúgio Grey: O mais novo dos refúgios, é bem isolado, sala aconchegante com lareiras e sofá, quartos sem calefação, banho quente, comida muito boa.
Refúgio Paine Grande: Grande, antigo, mas bem equipado com calefação nos quartos, bar, restaurante.
Administrados pela Fantástico Sur
Refúgio Los Cuernos: Delícia de refúgio, se for possível opte pela opção das cabanas privativas, elas dão direito ao uso da hot tub, um verdadeiro no luxo durante o circuito! Comida excelente.
Refúgio Torre Central: Refúgio Grande com ótima estrutura, lounges com redes, futons e lareiras.
Todos os refúgios oferecem serviço de full board e cama armada (roupa de cama, travesseiro e cobertor).
Em Puerto Natales:
Com arquitetura intrigante o hotel foi desenhado para estar completamente inserido na paisagem. O revestimento externo é feito de tijolos de grama, na parte interna a madeira e concreto reinam absolutos. O restaurante vale ser testado e a jacuzzi externa é uma delícia!
Na borda do Parque Torres Del Paine
O parque vai muito além do circuito W e O, caso você tenha tempo para desprender alguns dias ao seu redor nós indicamos o fantástico Hotel Boutique Tierra Patagônia.
O hotel está camuflado nas margens do lago Sarmiento na borda do Parque Nacional de Torres Del Paine. A arquitetura do hotel é ousada, madeira e vidro são utilizados em larga escala trazendo grande conforto a todos os ambientes.
O grande diferencial do hotel é o “cardápio” de excursões que são oferecidos. Um guia te explica todas as opções e você escolhe qual passeio deseja fazer, simples assim!
Acompanhe o por do sol da fantástica piscina e jacuzzi externa.
Como Chegar
Puerto Natales é a cidade porta de entrada para Torres del Paine, a cidade não conta com muito atrativos, mas possui boa infraestrutura hoteleira e o trekking para o Cerro Dorothea vale a pena.
No caminho até o parque é comum ver os gaúchos conduzido boiadas ou rebanhos de ovelhas.
Na rodoviária de Porto Natales existem 3 companhias que realizam o percurso:
Nome | Telefone | Site |
Buses Fernández | (+56-61) 221429 | www.busesfernandez.com |
Buses Pacheco | (+56-61) 225527 | www.busespacheco.com |
Bus – Sur | (+56-61) 227145 | www.bus-sur.cl |
Chegando no parque todos os ônibus param na portaria da Laguna Amarga onde os visitante pagam a taxa do parque, recebem informações importantes e depois estão livre para começar o trekking pelo lado leste ou seguir de ônibus até o porto do Pudeto para pegar o catamarã para o Refúgio Paine Grande.
Melhor época para ir
Alta Temporada – Novembro, Dezembro, Janeiro, Fevereiro e Março
Prós
– Temperaturas amenas ;
– Pouca chuva;
– Dois horários de transfers;
Contras
– Temporada dos ventos;
– Parque lotado (imprescindível fazer reserva nos refúgios);
Baixa Temporada – Outubro e Abril
Prós
– Parque vazio;
– Não existe necessidade de reservar os refúgios antecipadamente;
– As cores do outono são espetaculares;
Contras
– Apenas um horário de transfer.
Qual o melhor lado para começar o W?
Depende, principalmente do tempo! Se você está livre com as reservas dos refúgios e campings, observe a previsão e tente encaixar a janela de tempo bom com o atração principal, as Torres!
Outro ponto, na baixa temporada os horários dos ônibus e catamarã são reduzidos, restringindo apenas a um horário para chegar e sair do parque. Portanto, se você tem apenas 4 noites para fazer o circuito, vale a pena começar pelo lado oeste (lado das Torres), desta maneira você consegue distribuir melhor a quilometragem ao longo dos cinco dias de trilha.
Diário de Trilha
Dia 1 (20 de abril – 2015) – (11km -3,5 horas)
Puerto Natales – Torres Del Paine – Refúgio Grey
Embarcamos no Catamaran no Pudeto às 10:45 com fortes ventos, a navegação foi emoção pura. Atracamos na frente do Refúgio Paine Grande e logo pegamos a trilha em direção ao Glaciar Grey. A trilha é de dificuldade média, são 11km percorridos em 3,5 horas. O ponto alto da trilha é vista do Lago e Glaciar Grey. Chegando ao Refúgio Grey, fizemos nosso check in, deixamos nossa bagagem e partimos até o mirador do Glaciar. Na volta, sala aquecida com lareira, cama feita, banho quente e ótima refeição. O ambiente descontraído do Refúgio Grey reúne pessoas que estão iniciando ou terminando W, por isso o clima é de empolgação, alguns ansiosos pelo que vem pela frente e outros comemorando pelo final da aventura.
Na temporada de 2012 – 2013 um grave incêndio queimou o parque durante 1 mês e meio. 17 mil hectares foram destruídos, este o trecho que foi mais prejudicado e andar no meio dos bosques das centenárias lengas queimadas é de cortar o coração.
Condições Climáticas: Ventos fortíssimos (120km/h), sol, nublado e frio!
Dia 2 (21 de abril – 2015) (11km – 3,5horas)
Refugio Grey – Refúgio Paine Grande
Neste dia teoricamente o percurso é o retorno do dia anterior, mas depois de algumas dicas recebidas vimos que valia muito a pena acordar cedo e seguir na direção contrária até a famosa “segunda ponte suspensa”. Fazer esta esticada é uma dica e tanto. A passagem pelas pontes suspensas dão frio na barriga e a vista do Glaciar Grey fica cada momento mais impressionante. Na volta almoçamos no refugio e seguimos em direção ao Paine Grande. De volta ao Paine Grande, se há tempo, seguir por pelo menos uns 40 minutos na trilha que leva a uma das entradas do parque é uma boa pedida.
Banho Quente, Quarto quente, Xadrez e ótima conversa marcaram nossa noite por aqui.
Condições Climáticas: Ventos fortes (100km/h), sol e nuvens!
Dia 3 (22 de abril – 2015) (22,5 km – 11 horas)
Refúgio Paine Grande – Vale Francês – Cabanas Los Cuernos
Acordamos antes do dia clarear (nesta época do ano amanhece tarde por aqui – 9:00 am), tomamos nosso café e saímos de noite em baixo de uma fina garoa para um dia longo de trekking, a previsão do tempo não era animadora, muita chuva estava prevista para os próximos dias.
Fizemos a trilha até o acampamento italiano de forma cuidadosa para não enfiar nossos pés nos riachos, lamas e poças d’água que já se formavam pelo caminho. Conseguimos com êxito chegar ao destino com os pés secos, mas o triunfo durou pouco. Deixamos uma de nossas mochilas na administração do acampamento e seguimos para o o mirador britânico no Vale Francês, neste momento a chuva começou a apertar e os rios começaram a ganhar volume rapidamente. Chegamos sem problemas ao primeiro mirador, o dia estava bem fechado, mas valeu a pena porque estacamos muito próximos as montanhas do vale e seus imensos glaciares. Decidimos continuar até o segundo mirador, mesmo com a informação que ele estava fechado. Nos abrigamos no bosque para almoçar nossa lunch box e andamos um bocado até na direção do segundo mirador , mas desistimos de seguir em frente porque as pessoas que retornavam do destino falavam que a trilha estava realmente fechada e nada se via lá de cima. Na volta uma das cachoeiras já tinha subido e estava impossível atravessar sem molhar os pés. Avisamos os guardas parques, mas a o aviso não foi recebido com muita seriedade. Continuamos nosso caminho até o Refúgio Los Cuernos e durante o percurso cruzamos várias travessias de rio que começaram a se tornar perigosas devido a correnteza, temperatura da água, rochas e troncos rolando. Em alguns momentos fizemos travessias com água a 4 graus na altura da cintura.
Chegando as cabanas, foi um verdadeiro luxo, cabana privativa com lareira, roupa de banho, amenities e uma incrível Hot Tub para desfrutar. A chuva prosseguiu sem dar trégua e durante o jantar conversando com o pessoal percebemos que a coisa estava se tornando séria e o parque não estava tomando nenhuma providencia.
Dia 4 (23 de abril – 2015) (26 km – 12 horas)
Los Cuernos – Mirador das Torres – Refúgio Torre Central
A chuva não deu trégua a noite inteira, os rios subiram muito e felizmente o parque começou evacuar algumas trilhas. Partimos em direção ao nosso objetivo (as torres), mas no meio do caminho estávamos encharcados morrendo de frio, e tomamos a difícil decisão de não pegar o atalho (Los Cuernos – Chileno) e infelizmente abortamos nosso ataque as torres. Chegado ao Refúgio Torre Central, vimos que a decisão foi acertada. A trilha para as torres foi fechada devido a quebra de uma ponte, o refúgio chileno havia sido evacuado e realmente terminaríamos nosso W sem a vista da estrela local!
O refúgio estava vazio e todos que restaram estavam desolados com a possibilidade de ir embora sem completar o planejado.
Dia 5 (24 de abril – 2015)
Refúgio Torre Central
Dia de ir embora, o frio voltou, a chuva deu lugar a neve, decidimos nos arriscar um pouquinho na trilha e conseguimos ir até o Refugio Chileno, mas infelizmente tivemos que voltar pois o tansfer partia da Laguna Amarga às 14:30hrs. Demos meia volta e nos despedimos do W sem conhecermos Las Torres.
A chuva dos últimos dias foi tão forte que o acesso a Portaria da Laguna Amarga estava bloqueado porque o nível do Rio Paine subiu muito invadindo a estrada e ameaçando algumas pontes. Os ônibus e transfers precisavam dar uma grande volta pela portaria do Lago Sarmiento. Conversando com funcionários do parque e refúgios, eles nos contaram que nunca presenciaram tamanho volume de chuva e uma situação tão complicada dentro do parque. (média anual 200 mm – choveu em 2 dias 50mm)
Segunda Chance! 26 de abril – 2015 (18 km – 8 horas)
Tierra Patagonia – Hotel Las Torres – Mirador das Torres
Felizmente tivemos a oportunidade de passar 3 dias no fantástico hotel boutique Tierra Patagonia que fica nas margens do Lago Sarmiento na borda do parque. O hotel oferece um verdadeiro cardápio de atividades outdoor e entre elas o trekking ao Mirador das bases da Torres. No dia 26/04, acordamos cedo, tomamos nosso delicioso café observando o amanhecer de uma dia espetacular no Maciço Del Paine. Acompanhado do nosso guia e de outros hóspedes do hotel. Pegamos o carro até o Hotel Las Torres e de lá iniciamos nosso trekking até a base em um dia belo. Foram 2h40min de trilha com mochila de ataque até conseguimos avistar a beleza, paz e silencio do local. Realmente a ida as torres é imperdível e o ponto alto do parque.